Daiane dos Santos: carreira, dificuldades, pandemia, futuro

por KVRA

Um dos maiores sonhos de muitas crianças é ser atleta profissional, porém não basta apenas ser bom em atividades físicas, é necessário garra e muita determinação.

Aos que veem de fora imaginam o glamour de ser atleta e todo o reconhecimento, às vezes até a nível internacional, mas se engana quem pensa que é apenas isso. A profissão de atleta só foi reconhecida em 1998 pela Lei n°9615 em que foi estabelecido um contrato formal de trabalho, garantindo direitos.

E como hoje é o dia deles, batemos um papo com a Daiane dos Santos, uma das atletas mais conhecidas do Brasil, com 9 medalhas de ouro em etapas de copa do mundo, sendo a primeira ginasta brasileira – entre homens e mulheres – a conquistar medalha de ouro em uma edição do Campeonato Mundial.

Além disso, Daiane fez parte da primeira seleção brasileira completa a disputar uma edição olímpica nos Jogos de Atenas e fez presença nas edições seguintes, nas Olimpíadas de Pequim e de Londres.
E não acaba por aí: Daiane tem dois movimentos que levam seu nome, o duplo twist carpado (ou Dos Santos I), e a evolução deste, o duplo twist esticado (ou Dos Santos II). E sabe o melhor? Hoje é dia do atleta profissional e também aniversário dela!

Se liga na nossa entrevista exclusiva com a Daiane:

Você faz aniversário no dia do atleta profissional e é uma das maiores atletas que o Brasil já teve. Você vê essa data como algo ainda mais especial por ser não só seu aniversário, mas também uma data que comemora sua profissão?

O dia do atleta pra mim tem uma dupla comemoração pelo meu aniversário e junto, consegui nascer nesse dia especial, o Dia do Atleta Profissional! Então eu comemoro anos de vida e comemoro felicidades por ter escolhido essa carreira tão linda que eu amo tanto, que é ser e ter sido, uma atleta profissional!

O que é e como é ser atleta pra você?

Ser uma atleta profissional é muito mais do que ganhar títulos e medalhas, é poder representar a sua nação, seu povo. É levar o nome de milhões de pessoas a cada salto, a cada bom exemplo que você dá, a cada batalha que a gente vence (e que perde também). É você poder ter o orgulho de levar o escudo do seu país no seu uniforme, e acima de tudo, principalmente, dentro do coração. Então é uma satisfação imensa poder fazer com que as pessoas se apaixonem pelo esporte e poder representar essa nação tão linda que é o Brasil através da modalidade esportiva.

Quais as dificuldades e obstáculos você encontrou nessa carreira?

Bem, quando nós falamos de dificuldades, eu acho que é difícil a gente encontrar um atleta que não tenha algum tipo de dificuldade, principalmente no começo da carreira.

A grande maioria dos atletas, e não foi diferente comigo, encontram principalmente a dificuldade financeira. No caso da ginástica esportiva, que é um esporte mais caro, por conta das vestimentas, e fora isso, temos todas aquelas questões de se manter dentro do esporte com gastos como passagem, alimentação, pra chegar até o ambiente esportivo, então a questão financeira realmente foi uma dificuldade no meu começo.

Fora isso também tiveram situações que aconteceram no decorrer da minha carreira, como a questão do preconceito racial, infelizmente a gente ainda tem questões como essa, que vivenciamos aqui e fora do país, a questão social também, como eu que vim de uma família de renda mais baixa, e também eu enfrentei a dificuldade de ter sido uma menina que começou tarde no esporte.

Eu comecei com 11 anos, então também foi uma barreira, mas eu digo que tudo isso deu um temperinho a mais pra eu me encontrar mais engajada pela paixão e pelo amor que eu tive pelo esporte, de seguir em frente e seguir meu sonho, não ouvir o que os outros diziam e não dar bola pra essas dificuldades que encontrei pelo meu caminho.

O que diria para quem sonha em ser atleta profissional e/ou está começando essa carreira?

Eu quero dividir com vocês exemplos e palavras que eu recebi de pessoas que torceram por mim, me ajudaram e colaboraram pra que eu me tornasse uma atleta. 

Pra você que quer se tornar um atleta, não se esqueça: aproveite a sua oportunidade ao máximo! Oportunidade essa que o esporte te dá! Acredite no seu potencial, trabalhe duro, seja dedicado, determinado, disciplinado. 

Essas palavras em conjunto, com certeza, vão fazer de você um grande vencedor dentro e fora das arenas esportivas.

A carreira do atleta, assim como das modelos, tem um período curto de tempo comparado a outras. Você hoje é comentarista, influencer e tem seu projeto social. Como você lida com isso e quem é a Daiane hoje? Você se vê uma mulher diferente?

Bem, através do esporte eu pude ter n oportunidades na minha vida. Hoje eu atuo como influenciadora esportiva, ou seja, eu tenho vários segmentos dentro dessa conexão com o esporte, como engajar mais pessoas, a prática esportiva, representar mais marcas, ter essa troca de informação do que eu vivenciei na minha carreira como atleta com as pessoas dentro do mundo corporativo e fora dele também.

Então eu remodelei uma Daiane, uma mulher diferente, graças a essa oportunidade diferenciada que eu tive, que é ter feito um esporte na minha vida. A ginástica abriu portas que eu não imaginei, como ser uma comentarista esportiva, poder falar pro mundo todo e apaixonar milhões de pessoas pelo mesmo amor que eu tenho pelo meu esporte.

Então eu acho que sim! Acho que o esporte vem agregar nossa vida de uma forma completa, e claro, temos que estar prontos pra aproveitar essas oportunidades, e nos tornarmos cada vez mais um profissional melhor preparado e mais bem equipado pra poder seguir os caminhos e as portas que o esporte abre em nossas vidas.

E já que falamos sobre seu projeto, o Brasileirinhos, que visa vermos mais nomes brasileiros no cenário internacional de atletas, fala pra gente como ele funciona 🙂

O Brasileirinhos é a realização de um sonho! Enquanto eu era atleta, uma das coisas que eu mais ouvia era “como eu gostaria de ter oportunidade de fazer ginástica/esporte.” E isso sempre tocava muito meu coração, então era um desejo de que, quando eu parasse com minha carreira esportiva, ter o meu projeto social.

Acredito que é uma forma de eu poder retribuir, mostrando toda a minha gratidão a todas as oportunidades que o esporte me deu. Acho que eu tinha a missão e o dever de fazer isso, dar essa oportunidade pra outros jovens e crianças. O principal objetivo do Brasileirinhos é poder transformar o ser humano, é ser uma ferramenta de transformação através da prática esportiva (no caso do meu projeto, a ginástica). 

É a gente poder dar toda essa parte educacional pra jovens e crianças que às vezes não têm esse exemplo dentro de casa, então eles encontram esse exemplo dentro dos ginásios e das arenas esportivas. E poder ter concretizado esse sonho é um orgulho muito grande, é muito forte poder ver o brilho no olhar das crianças quando elas estão fazendo o projeto junto.

Importante lembrar que esse sonho não foi só meu, e por isso ele conseguiu se tornar real, ele foi construído a muitas mãos, e essas mãos são de pessoas que, assim como eu, acreditaram que o maior benefício que podemos dar á alguém é o amor, o carinho e a educação. 

A pandemia afetou muitas áreas, e os atletas foram bem afetados por conta das medidas de distanciamento e isolamento, além do fechamento de academia. Como você lidou com essa questão? Teve dificuldades, encontrou soluções e/ou oportunidades?

A pandemia tem sido um desafio pra todos nós, agora a gente ainda vive esse momento, mas de uma forma diferente. Ano passado foi um ano muito desafiador pra todos, mas pro esporte, que tava num momento diferente, sendo aguardado por conta dos jogos olímpicos… mas acho que o comitê olímpico tomou uma decisão muito sábia, de colocar de lado os próprios interesses e de ter tido esse olhar de empatia e compreensão, vendo que era um momento de saúde pública e acho que isso foi abraçado pela maioria dos atletas, não foi uma decisão fácil pra nenhum de nós, porque todos nós estávamos envolvidos de alguma forma.

Mas acho que foi, e tá sendo, um momento de crescimento, de se remodelar, se reinventar, isso tem acontecido comigo, acho que eu tenho tido uma visão diferente nesse período atual. De tentar melhorar mais, de me conectar mais, e acho que essa questão da internet abriu muito nossos olhos nesse momento da pandemia, pra gente poder ter um trabalho diferenciado e que talvez perdure daí pra frente.

Pra mim foi muito gratificante também, porque eu pude olhar pra algumas questões que até então faziam parte da minha vida, mas nesse momento de pandemia eu olhei com meus olhos mais abertos que antes, então sim, foi um momento de grande crescimento.

A gente falou aqui sobre você ter sido a 1° a conquistar medalha de ouro na sua categoria, você contribuiu MUITO pro Brasil no esporte e na cultura. Ainda que hoje você não seja mais ginasta, como você acha que isso impactou sua vida e como impacta seu projeto social? Acredita que tenha sido mais fácil na criação e divulgação dele?

Ter sido a primeira campeã do mundo na ginástica artística brasileira abriu muitas portas e oportunidades. é tão importante quando a gente consegue ter esse reconhecimento, isso dá credibilidade pro nosso trabalho.

Consegui viver isso muito presente durante minha carreira esportiva, mas hoje eu tenho uma nova atuação, como influenciadora esportiva, como idealizadora do projeto Brasileirinhos, como gestora, como condutora da minha equipe que me ajuda e me ampara dentro do projeto.

Tem uma responsabilidade muito grande de continuar levando essa credibilidade a frente pra poder trazer benefícios que, às vezes, a gente acha que vai ser um pouco mais fácil por ser atleta, e quando a gente cai na real, quando a gente quer tirar um projeto do papel e trazer ele pra vida das pessoas, não é tão simples, mas acho que tudo o que aprendemos, e mais, o que conseguimos sentir através do projeto social, vale muito a pena!

A Daiane é uma parceira nossa e ficamos muito felizes com essa troca de ideias! Parabéns pelo seu dia e pelo seu aniversário! E vcs, o que acharam?

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